Tem ocorrido que os casais, antes de pensar em gravidez, se preocupam em criar condições que assegurem as melhores condições de suporte para o desenvolvimento do(s) filho(s). Concomitantemente, ou como decorrência disso, a mulher está tendo a primeira gravidez numa idade cada vez maior.
É fato que, com o aumento da idade, as chances de gravidez natural vão se reduzindo, principalmente em virtude da redução tanto da qualidade quanto da quantidade de óvulos (oócitos): lembremo-nos que a mulher nasce com um número finito de óvulos e, com o passar do tempo, sua quantidade se reduz paulatinamente, a velocidade da perda sendo aumentada ao redor dos 35-37 anos. Além disso, a qualidade dos óvulos também se depaupera com o tempo. Dessa forma, há uma tendência cada vez maior a ter ciclos menstruais sem ovulação, ou com liberação de óvulos impróprios para a fertilização. O gráfico,extraído de um estudo feito em Boston (EUA), mostra as taxas de gravidez por ciclo de fertilização in vitro iniciado, conforme a idade da mulher: de 20,8 % aos 40 anos, decresce para 2,8% aos 44 anos.
Em situações de pouca quantidade e baixa qualidade dos óvulos, pode ser indicada a doação de óvulos de uma mulher mais jovem. No entanto, nem todos os casais aceitam a ovodoação e, nesse caso, o melhor procedimento a ser utilizado é a fertilização in vitro, que proporciona maior taxa de gravidez. Daí a pergunta: até que idade da mulher, a fertilização in vitro pode ser considerada um procedimento efetivo para obtenção de gravidez?
Um bom trabalho técnico feito na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, ilustra o que se pode esperar como resposta. Os autores realizaram ciclos de fertilização in vitro com mulheres de 45 a 49 anos de idade. De 231 ciclos realizados, 70 foram cancelados (perto de 30%), por falta de desenvolvimento folicular adequado. Nos 161 restantes houve cirurgia para retirada de oócitos. Em 13 deles, não houve fertilização para formar o embrião. Nos restantes 148, houve transferência dos embriões e ocorreram 34 gravidezes (taxa de gravidez: 23% por transferência de embriões, ou 15% por ciclo iniciado). Das 34 gravidezes, foram apenas cinco os bebês nascidos (3% por transferência de embriões ou 2% por ciclo iniciado), pois ocorreram 29 perdas gestacionais: 16 perdas precoces (antes que se pudesse evidenciar embrião no útero) e 13 abortamentos (perdas após ser evidenciado embrião dentro do útero, por meio do ultrassom). Todas as crianças nascidas provieram das pacientes com 45 anos. Nas de 46 anos, todas as gravidezes culminaram em perda. Nas de 47 a 49 anos, não houve gravidez. Assim, a sugestão é a de que a idade máxima da mulher para que se obtenha filhos por meio de fertilização in vitro, é de 45 anos.
Naturalmente, essa evidência representa apenas um alerta que nos auxilia na direção a tomar. Não implica em assumir, tão diretamente e de modo definitivo, que mulheres com 46 ou 47 anos não possam obter gravidez com seus próprios óvulos. Repetimos mais uma vez: apenas uma análise clínica criteriosa de cada casal, associada aos exames adequados, pode conduzir a uma conduta terapêutica que melhor adapte a possibilidade técnica ao anseio do casal.
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Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo