O suicídio, segunda causa principal de morte entre os jovens e adultos de meia idade no mundo inteiro, tornou-se uma prioridade de saúde pública para a Organização Mundial da Saúde (OMS). Anualmente, cerca de 1 milhão de pessoas tiram a própria vida, no mundo inteiro, em especial nos países de baixo e médio rendimento, que concentram 75% dos casos.
Recentemente, o Departamento de Psiquiatria da EPM/Unifesp realizou uma análise dos dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas ( LENAD), a fim de investigar a prevalência de comportamento suicida, bem como sua associação com o uso de substâncias ilícitas, em uma amostra populacional representativa de todas regiões do País. Foram entrevistados 5.764 indivíduos, com mais de 14 anos de idade.
A análise demonstra não só que as prevalências de pensamento e tentativa de suicídio são significativamente maiores entre usuários de maconha e cocaína e, também, entre bebedores problemáticos, mas também identificou associações entre o consumo e pensamento e tentativa de suicídio. Usuários destas substâncias apresentam maiores riscos que a população geral de ter pensamentos suicidas e tentar suicídio. Tal associação ocorre independente do diagnóstico de depressão ou histórico familiar de suicídio. Usuários de cocaína, por exemplo, atentam quatro vezes mais contra a própria vida do que a população em geral. Já os usuários problemáticos de álcool têm duas vezes mais chances de pensar e tentar o suicídio, enquanto os usuários de maconha três vezes mais. A análise, que fez parte do doutorado defendido pela psiquiatra Renata Rigacci Abdalla, será publicada em um artigo científico aceito recentemente pela Revista Brasileira de Psiquiatria .
O suicídio é resultado da interação entre fatores biológicos, incluindo predisposição genética, com uma imensidade de variáveis ambientais e psicossociais. “Nossos dados mostram que o consumo de substâncias é um importante fator de risco para pensamentos e comportamento suicida”, explica a Profa Dra Clarice Sandi Madruga, coordenadora da pesquisa, lembrando que comportamento suicida inclui o suicídio consumado e a tentativa de suicídio, enquanto os pensamentos e planos suicidas são chamados ideação suicida.
Clarice ressalta que o resultado desse estudo deve incentivar a elaboração de estratégias de prevenção de suicídio entre a população usuária de substâncias em tratamento ou não. Destaca, ainda, que a prevenção do uso de substâncias pode, em última análise, ter também um impacto positivo na prevenção do suicídio.