Em comemoração ao Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo (20/2), e às vésperas do carnaval, o Hospital Municipal de Barueri Dr. Francisco Moran (HMB), unidade da Prefeitura de Barueri gerenciada em parceria com a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, aproveita o período para destacar as consequências que a ingestão de álcool podem causar à saúde mental.
Para muitas pessoas, festa é sinônimo de bebidas, já que o álcool pode gerar sensação de bem-estar e euforia. Porém, é importante ressaltar que essa percepção é momentânea e perigosa para a saúde. “O efeito do etanol é primeiramente excitatório, liberando serotonina, um neurotransmissor associado à alegria e satisfação, por isso as pessoas ficam desinibidas e até mais corajosas. No entanto, passado esse primeiro momento, o álcool começa a deprimir o sistema nervoso central por aumentar as quantidades do neurotransmissor GABA, que pode causar perda de consciência”, explica Rafael Reichert, coordenador de psiquiatria do hospital, que classifica o álcool como uma substância psicoativa, que, por atuar diretamente no cérebro, pode gerar complicações como alterações de humor, transtorno de ansiedade, depressão e danos permanentes de memória.
“Só mais um gole, amigo” ou “falta a saideira” são expressões corriqueiras nas conversas de bar, mas vale lembrar o prejuízo que a brincadeira pode gerar. “Não esqueçamos que o álcool é uma droga, que oferece riscos e as pessoas que bebem excessivamente podem ser incapazes de reduzir seu consumo ou controlar esses riscos. E fatores como o ambiente social e cultural, a saúde psicológica abalada e a predisposição genética podem fazer com que o uso de álcool se transforme em alcoolismo”, comenta Bruna Vieira, psicóloga da unidade.
Em geral, cerca de 45% dos pacientes do setor de psiquiatria do HMB possuem alguma doença relacionada ao uso de álcool e drogas, ou seja, que foi desencadeada ou potencializada pelo consumo dessas substâncias. Entre 1º de janeiro e 19 de fevereiro, devido ao período de festas, a porcentagem aumentou para 75%. “A internação é necessária quando o paciente começa a perder o juízo e a crítica de seus atos, passando a se prejudicar e colocar sua própria vida em risco. A drogadição, que engloba o alcoolismo, é um fator que aumenta de quatro à cinco vezes o risco de suicídio”, alerta Reichert.
Além da internação, que trata o período agudo da doença como um processo de desintoxicação, o acolhimento emocional também é fundamental para a reabilitação. “O alcoolismo é uma doença que precisa de tratamento multiprofissional. A psicologia atua para proporcionar a compreensão das causas subjetivas que levaram ao uso de drogas, auxilia no entendimento do caminho percorrido durante a vida do usuário, revisita os conflitos, as emoções e a forma de lidar com eles. Através de uma escuta atenta e de exercícios de auto-observação, é possível rever os papéis sociais e resgatar os vínculos rompidos”, esclarece a psicóloga, que classifica o desejo do próprio paciente como fator principal para modificar a realidade e buscar transformação.
Existe uma linha muito tênue entre a diversão e a compulsão, por isso, amigos e familiares precisam observar alguns sinais apresentados pela pessoa que consome álcool frequentemente. “Aqueles que buscam o álcool ou qualquer droga por aborrecimento e problemas pessoais, para frequentemente aliviar o estresse do dia a dia ou que se sentem frustrados quando não encontram bebida merecem atenção especial”, adverte o psiquiatra.
Assim como os familiares são importantes para o processo de reconhecimento da doença, eles também precisam ser acompanhados para conhecer as causas, consequências do alcoolismo e para entender o tratamento. “A família do usuário é uma população vulnerável, que necessita de atenção e cuidados específicos. Por exemplo, quando existe um acompanhamento psicológico, é possível encontrar recursos para lidar com as limitações e dificuldades”, informa Vieira, que identifica nos parentes a possibilidade de estabelecer uma comunicação adequada para promover afeto e principalmente se tornar um fator de proteção contra o uso de drogas.